sexta-feira, 30 de agosto de 2013


A HISTORIA DA LOUCURA

 

Demonologia

A crença de que o comportamento anormal é causado por forças sobrenaturais que assumem o controle da mente ou do corpo é anterior ao começo da história escrita. Evidências na forma de rolos de papiro, monumentos e os antigos livros da Bíblia revelam que os antigos egípcios, árabes e hebreus acreditavam que o comportamento anormal era decorrente de possessão por forças sobrenaturais, como deuses irados, maus espíritos e demônios.

A abordagem típica para expulsar os demônios era usar encantamentos, preces ou poções para persuadí-los a irem embora. Em alguns casos, diversas formas de punição física, como apedrejar ou açoitar, eram defendidas como um meio de forçar os demônios para fora de uma pessoa possuída

 

Hipócrates (460-377 a.C.)

Concepção sobrenatural da doença.

Considerava-se a epilepsia, por exemplo, como uma doença sagrada, chegando o próprio Hipócrates a afirmar que a referida doença lhe parecia "não mais divina nem mais sagrada que outras doenças".

Acreditava que a doença mental consistia numa alteração ou patologia cerebral por desequilíbrio dos humores básicos (sangue, bílis amarela, bílis negra e fleuma).

 

Platão (429-347 a.c.)

Pensava que as alterações mentais dependiam de uma parte orgânica, de outra ética e de outra divina.

Assim como os gregos, os romanos defendiam um tratamento humanitário para estes doentes, em vez do encerramento em cárceres

 

Galeno (130-200 a.c.)

Afirmava que as doenças mentais poderiam ter uma origem orgânica ou psíquica, dependendo a saúde do equilíbrio entre o racional, o irracional e a parte sensual da alma.

Após refletir sobre esses dados e sobre a época em que estão enquadrados, poder-se-ia pensar, com otimismo, que tudo o que está relacionado com o conhecimento da mente ia por muito bom caminho

 

IDADE MEDIA

A religião tornou-se a força dominante

A vida era percebida como uma luta entre forças do bem e forças do mal. sendo estas dirigi das pelo demônio que. considerava-se. afligia as pessoas perturbadas.

que as pessoas perturbadas poderiam ser acusadas de ser agentes do demônio (não meramente suas vítimas) e, portanto. rotuladas de bruxas.

Em 1486 foi publicado um manual, o Malleus Maleficarum (O martelo das bruxas), para identificar e examinar bruxas. Infelizmente, para os mentalmente doentes, o manual igualava comportamento anormal com possessão pelo demônio e supunha-se que os indivíduos possuídos fossem bruxas. Para expulsar o demônio, as bruxas tinham que ser mortas. muitas vezes queimadas vivas.

 

 

 

SÉC. XIII  ao SÉC. XV

NAU DOS LOUCOS - Barcos que levavam os insanos de uma cidade para outra. Os loucos eram muitas vezes escorraçados das cidades. A loucura ocupa o lugar na literatura e nas artes. Sentido Místico

 

 

Século XVI - INTRODUÇÃO DO CUIDADO HUMANITÁRIO

Reconhecimento de que as pessoas perturbadas precisavam de atendimento e não de exorcismo ou condenação. Em 1547, o hospital Saint Mary of Bethlehem. em Londres. foi dedicado ao cuidado de pessoas perturbadas

 

Prática de Internamento

Os primeiros asilos eram mais como prisões do que cormo hospitais. Nada era feito para os internos. além de confiná-los sob horríveis condições. Eles eram muitas vezes acorrentados à parede. às vezes de um modo que os impedia de deitarem-se para dormir

Grande número de pessoas extremamente perturbadas eram confinadas em alojamentos próximos. o que resultava em um espantoso caos e confusão

As condições nestes primeiros asilos constituíam uma fonte de divertimento e ingressos para ver os pacientes eram realmente vendidos ao público

 

 

 

SEC XVII: desacorrentou os doentes

Philippe Pinel (1745-1826)

Primeiro alienista, começou a separar e classificar os diversos tipos de "desvios" ou "alienação mental", com o objetivo de estudá-Ios e tratá-Ios. Surgem os manicômios - Instituição de estudo e tratamento de alienação mental. " Tratamento Moral" - afastamento dos doentes do contato com todas as influências da vida social. Psiquiatria como finalidade médica

 

William Tuke (1732-1822) - "retiro" para pacientes em uma propriedade rural. Sua abordagem embasava-se na noção de que repouso. ar fresco e a exposição à natureza tinham valor terapêutico

Benjamin Rush (1745-1813) o "pai da psiquiatria norte-americana" introduziu tratamento humanitário no Pennsylvania Hospital em 1783

 

 

FINAL DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX

INTRODUÇÃO DAS EXPLICAÇÕES PSICOLÓGICAS

 

A crença de que as causas do comportamento anormal eram psicológicas pode ser traçada a Europa do século XIX

 

MESMER (1734- 1815)

Acreditava que o comportamento anormal era decorrente de um desequilíbrio de determinados "líquidos magnéticos" no corpo (uma causa fisiológica). Para corrigir o desequilíbrio, Mesmer fazia com que grupos de pacientes se sentassem ao redor de uma grande banheira cheia de um "líquido magnético".

Foi acusado de charlatanismo mas contribuiu para que outros estudassem e concluíssem que fatores psicológicos e interpessoais desempenhavam um papel importante em muitos transtornos.

É considerado o pai do hipnotismo, originalmente conhecido como mesmerismo.

 

JEAN-MARTIN CHARCOT (1825-1893)

Neurologista, estava interessado em pacientes que sofriam do que era então chamado histeria. Os transtornos histéricos envolvem sintomas fisicos que não apresentam uma base orgânica demonstrável. O interesse de Charcot em pacientes com transtornos histéricos e sua conclusão de que seus sintomas tinham uma base psicológica prepararam o palco para o trabalho de Freud

 

FREUD - (1856-1939)

Neurologista . através da experiência clinica  experiência clínica formulou a hipótese de que a mente humana é semelhante a um iceberg - a maior porção está completamente encoberta. Em termos freudianos, a vasta parte oculta da mente é chamada de inconsciente e ela contém desejos, medos e conflitos poderosos que exercem uma forte influência sobre o comportamento da pessoa, embora a pessoa esteja completamente inconsciente de sua existência

 

PAVLOV (1849-1936)

Pavlov descobriu que se um estímulo (carne) que provocava uma resposta (salivação) fosse consistentemente combinado a um estímulo neutro (uma sineta), este inicialmente não provocava a resposta, mas após muitas combinações o estimulo neutro podia provocar a resposta. Hoje chamamos este processo de condicionamento clássico.

 

THORNDIKE (1874-1949)

Estava estudando como os gatos resolviam problemas. Apontou que o comportamento é governado pelas gratificações e punições, um processo que ele denominou de condicionamento operante (o termo operante vem do fato de que o animal age ou opera para obter gratificações e evitar punições).

 

WATSON (1878-1958)

Aceitou a noção de condicionamento e ativamente promoveu a idéia de que ele poderia ser usado para explicar o comportamento normal e anormal nos humanos. sugeriu que os medos (fobias) são decon entes de condicionamento clássico. O comportamentalismo rapidamente tornou-se popular devido ao seu objetivo, base científica e por suprir técnicas para mudar o comportamento(condicionar).

 

SKINNER (1904-1992)

Continuou o refinamento do condicionamento operante. O comportamentalismo supriu a base para a perspectiva da aprendizagem (ou condicionamento) sobre o comportamento anormal.

 

 

 

 

 

 

 

 

MODELO E PRÁTICA MANICOMIAL

- Relação Tutelar para com o louco Instituição asilar

- Paradigma psiquiátrico clássico - transforma a loucura em doença e produz uma demanda social para tratamento e assistência, distanciando o louco do espaço social.

- Relação vertical: Equipe X Paciente Alienação do sujeito

- Coisificação

- Institucionalização total: algo que sempre se revela como uma forma de regressão que se sobrepõe á doença original em indivíduos psiquicamente frágeis ou doentes, graças ao processo de aniquilamento e destruição individual a que são submetidas pela vida asilar.

- Poder centrado no médico e na medicalização

 

1960 - Corrente antipsiquiátrica

Questionava a psiquiatria convencional enquanto conhecimento científico, propondo serem frágeis as próprias bases que fundamentam a existência da doença mental. “...a loucura não é doença, mas um reflexo do desequilíbrio social e familiar do meio onde o indivíduo se encontra inserido, devendo o empenho em sua cura se localizar nestas causas, excluindo as disfunções orgânicas tão propagadas anteriormente.”

 

 

 

REFORMA PSIQUIATRICA – Franco Basaglia

"Qualquer que fosse a forma de administrar a instituição ou manicômio, este seria sempre um lugar de controle social e não de cura" - Basaglia, 1979.

Franco Basaglia, que era médico e psiquiatra. Inicia um movimento na Itália, que foi nomeado de Psiquiatria Democrática Italiana.

Precursor da reforma psiquiátrica na ano de 1961, - Basaglia criticava a postura tradicional da cultura médica, que transformava o indivíduo e seu corpo em meros objetos de intervenção clínica.

Ele assumia uma posição crítica para com a psiquiatria clássica e hospitalar, por esta se centrar no princípio do isolamento do louco, sendo portanto excludente e repressora.

Ao invés de ter optado pela negação da doença, como os antipsiquiatras, propôs que o saber da psiquiatria fosse reformulado

A partir de 1970, assume a direção de um grande manicômio da cidade de Trieste, Itália. Onde iniciou o processo de fechamento e promoveu a substituição do tratamento hospitalar e manicomial por uma rede territorial de atendimento ( serviços de atenção comunitários, emergências psiquiátricas em hospital geral, cooperativas de trabalho protegido, centros de convivência e moradias assistidas ).

 

 

1978 - "Lei Basaglia".

Aprovada na Itália a chamada "Lei 180" ou "Lei da Reforma Psiquiátrica Italiana".

A inovação da metodologia empregada se fez com o recurso ao hospital-dia, que permitia a continuidade da inserção do indivíduo em seu meio social e familiar na constância do tratamento.

 

 

 

 

PSIQUIATRIA NO BRASIL - SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX

Construção dos primeiros estabelecimentos específicos para doentes mentais

Hospício Pedro II, no Rio de Janeiro, anexo à Santa Casa de Misericórdia da Corte 2, criado pelo Decreto 82 de 1841, funcionando desse ano até 1852 como Hospício Provisório

 

Século XX - Surgem os primeiros especialistas.

Até então, os médicos dos asilos, os chamados alienistas, eram, em grande parte, clínicos gerais e legistas.

Fez-se necessário, então, uma regulamentação desta atividade, que começava a ampliar seu campo de atuação na medida em que aumentava a quantidade de asilos pelo território brasileiro. A respeito da prática do alienismo, que orientara toda a conduta psiquiátrica posterior:

"... o alienismo instaura uma nova relação da sociedade com o louco: a relação de tutela, que se constitui numa dominação/subordinação regulamentada, cuja violência é legitimada com base na competência do tutor ‘versus’ a incapacidade do tutelado, caracterizado como ser incapaz de intercâmbios racionais isento de responsabilidade e, portanto, digno de assistência. Além do estatuto de doente, ganha o louco o de menor, ficando o médico, no caso o psiquiatra, como seu tutor, respondendo assim ao desafio da administração e controle legal da loucura na sociedade liberal."

 

O DECRETO 1.132/1903 E SEUS REFLEXOS

Iniciativa da implantação de uma legislação referente aos doentes mentais no Brasil

Estava explícita a influência sofrida da lei francesa de 1838 neste decreto, que encerrava, além da intenção de unificar a assistência psiquiátrica no país, o estímulo à construção de asilos estaduais e a proibição definitiva do cerceamento de doentes mentais, "alienados" na verdade, em prisões.

O Decreto 1.132 é o reflexo do empenho desta nascente classe médica, a psiquiátrica, em reservar a si mesma um espaço de atuação. Segunda esta lei, o único lugar autorizado a receber loucos era o hospício, por reunir condições adequadas, e toda internação estaria sujeita ao parecer do médico, detentor da "verdade" no que se refere à alienação mental.

O louco não possui a capacidade de gerir seus bens e a sua pessoa, devendo estar submetido a um curador, que também é o responsável pela guarda provisória dos bens do doente.

Em 1927, um decreto estabeleceu a distinção entre "psicopata", todo doente mental, e "alienado", que se referia ao doente mental perigoso, sujeito à incapacidade penal e civil. Desta forma, a internação do alienado passou a ser obrigatória.

 

Década de 1930

Conexão da psiquiatria brasileira ao pensamento alemão, desvinculando-se do modelo francês. O significado desta reestrutura de corrente doutrinária se fez na atenção dada ao biologicismo, próprio do sistema alemão, com a justificação da doença mental por argumentos que levavam em conta caracteres étnicos, sociais e políticos, fundamentando um direcionamento para a higiene mental, com particularidades racistas, xenofóbicas e eugenísticas

 

DECRETO 24.559/1934 - governo de Getúlio Vargas

O termo alienado foi retirado do ordenamento jurídico, que passou a referir-se somente ao psicopata, considerada uma denominação mais ampla.

A incapacidade do doente mental foi reafirmada, sendo facilitado o recurso à internação, válido por qualquer motivo que torne incômoda a manutenção do psicopata em sua residência

O Decreto 24.559 de 1934 revogou o anterior de 1903 e "Dispõe sobre a profilaxia mental, a assistência e a proteção à pessoa e aos bens dos psicopatas, a fiscalização dos serviços psiquiátricos (...)"

A internação era a regra, e o tratamento extra-hospitalar a exceção, bastando a mera suspeita de existência da doença mental para que o indivíduo fosse cerceado em asilos, com a subseqüente supressão de seus direitos civis, e submissão à tutela do Estado.

 

A REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA

1970 - Reforma Psiquiátrica brasileira

Manifestações de vários setores da sociedade no sentido de reduzir o cerceamento da liberdade individual na forma de manicômios.

Buscou-se um novo enfoque no modelo assistencial, através da promoção da saúde mental, ao invés de direcionar a ação apenas ao desequilíbrio psíquico já instalado.

 

Á partir de 1978

Movimentos protagonizados pelos trabalhadores em Saúde Mental. Apesar do enfoque coorporativista começa a organizar e a produzir crítica ao saber e a prática psiquiátrica clássica, a sua função tutelar e segregadora, acontecendo também uma série de denúncias públicas sobre as péssimas condições a que estavam submetidos os portadores de sofrimento mental internados nas instituições hospitalares.

 

1979

Rio de Janeiro e São Paulo começam a se organizarem em Associações de usuários e familiares, com o objetivo de envolvê-Ios no movimento

 

Fim dos anos 80

Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental, lançando o lema "Por uma sociedade sem manicômios" e estimulando a produção legislativa de vários estados no sentido de proceder à desistitucionalização.

 

1987 - Surgimento dos CAPS em São Paulo

O tratamento deveria ser feito, de preferência, em serviços comunitários de saúde mental, nos moldes do hospital-dia, tais como o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). Estes são proporcionados pelo setor público, retirando o monopólio que durante quase todo o século XX fora exercido pela iniciativa privada, na forma de hospitais psiquiátricos particulares, os quais, não raro, negligenciavam o tratamento adequado a fim de receber mais recursos vindos do Estado, inclusive na forma de internamentos desnecessários

Neste contexto, foi invertida a concepção da lei anterior, que estabeleceu o internamento como princípio basilar. Este passaria a ser feito somente quando os recursos extra-hospitalares não se mostrassem suficientes, tendo duração mínima e, ainda assim, sempre mantendo em vista o posterior retorno do paciente ao seu meio social

É perceptível a intenção do legislador em proteger o portador de transtorno mental contra as internações arbitrárias, possibilitando a este, sempre que possível a interferência em seu tratamento

As internações ficam divididas em 3 categorias: as voluntárias, nas quais existe o consentimento do paciente; as involuntárias, sem a anuência do paciente e por solicitação de terceiro; e as compulsórias, que são determinadas judicialmente. Estas duas últimas são controladas pelo Ministério Público, que deve ser notificado das mesmas em até 72 horas após sua ocorrência. Este órgão deve exercer o controle por ser ele o responsável, em nosso ordenamento jurídico, pela defesa os interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis, tal como estabelecido no caput do art.127 da Constituição Federal de 1988

 

1989 -  DEPUTADO PAULO DELGADO

Tomando por modelo a Lei Basaglia italiana  projeto Paulo delgado apresenta projeto que regulamentava os direitos dos doentes mentais em relação ao tratamento e indicava a extinção progressiva dos manicômios aos serviços substitutivos

 

Projeto de Lei pelo Deputado Paulo Delgado

Promulgada no Brasil, em 6 de abril de 2001, a Lei 10.216, a qual "Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental". Essa lei foi sancionada com modificações importantes em relação ao projeto original.

 

DIFERENÇAS DE PARADIGMAS

 

PSIQUIATRIA CLÁSSICA
REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL:
A) Manicômio
B) Rede substitutiva
B) Atenção centrada na doença
C) Atenção mais abrangente, integral, promovendo a saúde e a sustentabilidade dos sujeitos em sofrimento mental
C) Hierarquia centrada no poder médico
D)Implementação de equipes multidisciplinares, continentes ao sofrimento e instrumentos de socialização e inclusão dos sujeitos, considerando o vínculo como essencial para uma clinica de qualidade
D) Excessiva medicalização . (conter e vigiar a crise e punir seus excessos)
D) Criação de espaços para reflexões, produção de sentidos e construção de autonomia
E) Cultura médica, concentradora de poderes e saberes
E) Resgate de culturas, saberes e sentidos da comunidade
F) Anulação dos direitos, controle social
F) Estimulação da participação comunitária, direitos dos sujeitos como parte integrante do processo de tratamento (implicação subjetiva)

 

 

DISPOSITIVOS INSTITUCIONAIS DA  REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL

- Centro de convivência,

- Cooperativas de Trabalho Protegido, Residências Terapêuticas,

- Ambulatórios de Saúde Mental,

- Equipes multi-profissionais,

- Unidades Básicas de saúde (UBS)

- Programa de Saúde da Família (PSF)

- Enfermaria psiquiátrica em hospitais gerais Internações Psiquiátricas

- CAP S ( I, II, II )

- Prontos Socorros (PS)

 

 

DEFININDO O COMPORTAMENTO ANORMAL (Holmes, 1997)

 

Alguns teóricos definem o comportamento anormal do ponto de vista do indivíduo cujo comportamento está sendo considerado, enquanto outros teóricos definem o comportamento anormal do ponto de vista da cultura na qual o indivíduo está vivendo

1.Ponto de vista do indivíduo:  A atenção é focalizada primeiro na sofrimento do indivíduo

Os indivíduos são definidos como “anormais” quando estão ansiosos, deprimidos, insatisfeitos ou de outro modo seriamente perturbados.

 2.Capacidade:  A atenção é focalizada na incapacidade do indivíduo

Os indivíduos são definidos como “anormais”  quando não são capazes de funcionar pessoal, social, fisiológica ou profissionalmente

 3. Ponto de vista cultural: a atenção é focalizada em desvios da norma.

Por exemplo: um indivíduo que alucina será definido como anormal se a maioria das pessoas não alucina.  O que é normal em uma cultura, pode ser normal em outra.

 

Transtorno ou doença mental

É difícil definir com exatidão científica esta expressão, apesar de "a loucura ser uma das poucas coisas que estão bem distribuídas pelo mundo" (Basaglia).

 

A doença mental consiste, de forma empírica, num desequilíbrio psíquico que se pode manifestar através de diversos sinais e sintomas, e que dificulta o desenvolvimento da vida habitual da pessoa.

 

Fatores de origens diversas (biológicos, psicológicos e sociais) podem alterar o equilíbrio dinâmico que mantém as pessoas num estado relativo de saúde, descompensando-as. O mais freqüente é a ocorrência de vários fatores influindo no psiquismo humano, e que podem constituir um risco de alteração da saúde mental.

 

A principal diferença entre as doenças físicas e as mentais é que estas podem ser caracterizadas pela perda do autodomínio, o que resulta muito ameaçador para a maioria das pessoas, que as podem ver como perturbadoras e intoleráveis, levando à sua rejeição, negação etc. Talvez esta situação possa ter tido influência até agora, dificultando a abordagem do fato psiquiátrico com rigor e semjuízos pré-formados.

 

 

ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA

 

EVOLUCÃO DOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL

 Função de cuidar de crianças e de pessoas necessitadas é principalmente desempenhada pela mulher. Mais tarde, essa função foi atribuída a mulheres e homens religiosos, com o objetivo de servir a Deus e ao próximo.

Em 1932, a Ordem de 16 de Maio veio a regular as atividades dos práticos e enfermeiras que trabalham em centros psiquiátricos

Em 1955 é criado o PANA (Patronato Nacional de Assistência Psiquiátrica), com capacidade para determinar os estudos e as práticas mínimas a realizar pelo pessoal técnico e auxiliar

Em 1970, reconhece-se oficialmente a especialidade de enfermagem psiquiátrica, estudos com uma duração de dois anos letivos a cargo de escolas dependentes das cátedras de psiquiatria das faculdades de medicina.

Tal como a psiquiatria, a enfermagem teve como sua primeira função conter, isolar e aplicar tratamentos biológicos ou somáticos

 

1947 - HELENA WILLIS RENDER

Primeira autora a introduzir a idéia de que o relacionamento entre o (a) enfermeiro (a) e o paciente, é de um potencial terapêutico significativo

 

 

1952 - HILDEGARD E. PEPLAU  -  ENFERMEIRA

Enfoque no potencial terapêutico do relacionamento de pessoa para pessoa. Desde então, a enfermagem psiquiátrica vem ampliando sua visão utilizando os conceitos originalmente propostos por Render. Passou a se preocupar mais com as relações interpessoais.

 

O TRABALHO DA ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA

O trabalho da enfermagem psiquiátrica brasileira era vista como uma forma de punir, vigiar  e controlar o doente mental pelos seus atos, não visando a assistência ao doente mental.

A desinstitucionalização já é um passo para a reforma psiquiátrica, mas há muitas concepções a serem mudadas como ultrapassar os limites de atendimento baseado na farmacoterapia, a necessidade dos familiares, da sociedade, dos profissionais aprenderem a olhar o cenário com “outros olhos”, promover meios para que o doente mental consiga se reintegrar na sociedade, explorando seu potencial, seus talentos, aquilo que faz sentido para ele.

A enfermagem psiquiátrica  tem avançado neste processo, que não é uma tarefa fácil devido a  necessidade de mudanças no pensamento e no modo de agir e também ter bem definido o papel da enfermagem dentro da equipe multiprofissional

 

O OBJETIVO DA ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA HOJE:

Contribuir para que a pessoa reencontre e/ou enriqueça o equilíbrio dinâmico de que necessita para viver

Segundo Rosette Poletti, algumas das facetas que reúne a enfermagem psiquiátrica são:

• Cuidados globais não só em aspectos instrumentais, mas também psicossociais e espirituais.

• Papel dinâmico na criação de uma atmosfera humana que permita ao paciente reencontrar a harmonia e a prosperidade.

 • Participação na vida quotidiana dos pacientes, o que permite observar e recolher dados para o diagnóstico, tratamento e reabilitação.

• Relação bipessoal, que pode ser terapêutica quando o pessoal de enfermagem é responsável e consciente dos próprios conteúdos psicológicos, conhece os seus próprios limites e reconhece a sua própria identidade.

• Papel pedagógico de contribuição na formação de novos profissionais

 

É essencial que os enfermeiros tenham um amplo conhecimento no setor de atuação através de especialização, capacitação e educação continuada que enfoque a qualidade de assistência psiquiátrica, mudando assim sua visão, tendo uma posição mais crítica e saber seu papel dentro da equipe multiprofissional.

 

 

 

Saúde mental - aspecto da saúde em geral que, a permtir de uma concepção integral do ser humano como entidade biopsicossocial

Podemos considerar que um indivíduo reage de forma saudável se, no decorrer do seu desenvolvimento, se mostra capaz de uma adaptação flexível diante dos conflitos, de forma que fiquem salvaguardadas as suas necessidades instintivas fundamentais, ao manter a capacidade de suportar as frustrações e a angústia que estas criam". (P. Bernard )

O Comitê de Peritos da OMS

Saúde mental é "A capacidade de estabelecer relações harmoniosas com os demais e a contribuição construtiva nas modificações do ambiente físico e social".

 

Para Ewalt e Farhsworth "A capacidade de estabelecer relações harmoniosas com os demais e a contribuição construtiva nas modificações do ambiente físico e social".

 

 

Caraterísticas que deve possuir a pessoa mentalmente saudável:

- Não ter sintomas e doença, sentindo-se vital e descontraído.

- Conhecer a si mesmo.

- Manter contato com a realidade, o que implica aceitar as

próprias limitações assim como a capacidade em fazer frente às situações vitais com critérios realistas.

- Manter uma vida emocionalmente equilibrada.

- Adaptar-se à vida em sociedade.

- Encontrar motivos de satisfação razoáveis na vida diária.

- Ter convicções acerca do valor pessoal e do sentimento

da vida.

- Desenvolver o espírito criador na vida pessoal.

 

PSIQUIATRIA - "ciência que trata as doenças mentais" - "área do conhecimento médico-científico que se ocupa do estudo dos transtornos mentais nos seus diferentes aspectos: etiológico, clínico, diagnóstico, prognóstico, de prevenção e tratamento.

 

 

TRATAMENTOS

 

PSICOCIRURGIA

A lobotomia, mais apropriadamente chamada leucotomia (já que lobotomia refere-se a cortar as ligações de qualquer lobo cerebral) é uma intervenção cirúrgica no cérebro, onde são seccionadas as vias que ligam os lobos frontais ao tálamo e outras vias frontais associadas. Foi utilizada no passado em casos graves de esquizofrenia. A lobotomia foi a técnica pioneira e com maior sucesso da psicocirurgia.

Foi desenvolvida em 1935 pelo médico neurologista português António Egas Moniz (1874-1955). Recebeu com este trabalho o prêmio Nobel da Medicina e Fisiologia em 1949.

A psicocirurgia hoje, é definida como a “implantação de eletrodos, destruição ou estimulação direta do cérebro por qualquer meio”, tendo como propósito primário “controlar, mudar ou afetar qualquer distúrbio emocional ou comportamental”.Esta definição prevalece até hoje. são utilizadas apenas em última instância caso todos os outros tratamentos possíveis tenham-se revelado ineficazes. É assim praticada em alguns casos de dor crónica intratável (tratamento paliativo), neurose obsessiva, ansiedade crónica ou depressão profunda prolongada

 

TERAPIA  POR CHOQUE

FEBRE - Febre induzida por malária, para tratar paresia neurosifilítica, descoberta em Viena por Julius Wagner-Jauregg, em 1917; Ele observou que pacientes loucos melhoravam consideravelmente após sobreviverem à febre tifóide, erisipela e tuberculose. Impressionado pela coincidência de que todos estes pacientes tinham episódios de febre alta e inconsciência, ele começou a fazer experimentos com vários métodos de induzir febre, tais como infecção por erisipela, injeções de tuberculina, tifóide, etc. sem muito sucesso

 

INSULINA - Em Berlim, em 1927,  Manfred J. Sakel descobriu acidentalmente, ao causar convulsões com uma dose excessiva de insulina, que o tratamento era eficaz para pacientes com vários tipos de psicoses, particularmente a esquizofrenia Ele provocou um coma superficial em uma mulher viciada em morfina, usando uma injeção de insulina, e obteve uma notável recuperação de suas faculdades mentais.

O entusiamo inicial foi seguido pela diminuição no uso da terapia por coma insulínico, depois que estudos controlados adicionais mostraram que a cura real não era alcançada e que as melhoras eram na maioria das vezes temporárias.

 

Convulsões Químicas e Esquizofrenia - Ladislaus von Meduna estudou os cérebros e as histórias de doença mental de esquizofrênicos e epilépticos, e notou que parecia existir um "antagonismo biológico" entre estas duas doenças do cérebro. Meduna raciocinou então que convulsões epilépticas "puras" induzidas artificialmente poderiam ser capazes de "curar" a esquizofrenia.

A comunidade científica reconheceu que a teoria de incompatibilidade biológica entre convulsões e esquizofrenia não era verdadeira, mas que as convulsões provocadas artificialmente tinham o seu valor em psiquiatria.

Devido à aparência de muitos métodos para tratar doenças mentais, incluindo neurolépticos e terapia eletroconvulsiva, o metrazol foi gradualmente descontinuado no final dos anos 40 e não mais utilizado. Atualmente, sua importância é unicamente histórica. O advento do tratamento das psicoses usando choque fisiológico aumentou a oposição entre duas escolas de pensamento em psiquiatria: a psicológica e a biológica

 

A TERAPIA POR CHOQUE ELETROCONVULSIVO

Em 1937, um neurologista italiano chamado Ugo Cerletti estava convencido que as convulsões induzidas por metrazol eram úteis para o tratamento de esquizofrenia, mas muito perigosas e incontroláveis para serem aplicadas (naquele tempo não havia um antídoto para parar as convulsões, como acontecia com a insulina). Além disso, os pacientes tinham muito medo da terapia.

Cerletti sabia que um choque elétrico aplicado à cabeça produzia convulsões. A idéia de usar o choque eletroconvulsivo em seres humanos ocorreu-lhe pela primeira vez ao observar porcos sendo anestesiados com eletrochoque, antes de serem abatidos nos matadouros de Roma

Eles inicialmente experimentaram vários tipos de dispositivos em animais, até determinarem os parâmetros ideais e aperfeiçoarem a técnica, antes de iniciarem uma série de eletrochoques em sujeitos humanos (com esquizofrenia aguda). Após 10 a 20 eletrochoques em dias alternados, a melhora na maioria dos pacientes começou a se tornar evidente. Um dos benefícios inesperados do eletrochoque transcraniano foi que ele provocava amnésia retrógrada, ou seja, uma perda de todas as memórias de eventos imediatamente anteriores ao choque, incluindo a sua percepção. Assim, os pacientes não tinham sentimentos negativos relacionados à terapia, como acontecia com o choque por metrazol. Além disso, o eletrochoque era mais seguro e mais bem controlado, e menos perigoso para o paciente do que o metrazol.

Pesquisadores que adotaram o método de Cerletti-Bini logo descobriram que ele parecia ter efeitos espetaculares sobre os distúrbios afetivos. De acordo com E.A. Bennett, 90 % dos casos de depressão severa que eram resistentes a todos os tratamentos, desapareceram após três ou quatro semanas de eletrochoques. Logo, o curare e escopolamina estavam sendo usados em conjunto com a terapia eletroconvulsiva, e gradualmente substituíram o choque induzido por insulina e metrazol. O eletrochoque começava então a sua longa jornada como a terapia de choque de escolha, na maioria dos hospitais e asilos ao redor do mundo.

Outros tipos de terapia por choque foram brevemente testados, tais como a indução de febre por meio de microondas radiomagnéticas, anóxia cerebral transitória induzida pela respiração de uma mistura de oxigênio e nitrogênio, e pela crioterapia (redução da temperatura do corpo). Os resultados foram dúbios na maioria das vezes, e estas técnicas foram logo abandonados em favor da terapia eletroconvulsiva, mais prática, efetiva e barata.

Aperfeiçoamentos significativos na técnica de eletrochoque foram feitos desde então, incluindo o uso de relaxantes musculares sintéticos, tais como succinilcolina, a anestesia de pacientes com agentes de curta duração, a pré-oxigenação cerebral, o uso de EEG para monitoração da crise, e melhores dispositivos e formas de onda para ministrar o choque transcraniano. Apesar destes avanços, a popularidade da terapia eletroconvulsiva diminiu grandemente nas décadas de 60 e 70, devido ao uso de neurolépticos mais efetivos e como resultado de um forte movimento politicamente antagônico ao eletrochoque em psiquiatria, como veremos abaixo. Entretanto, a terapia eletroconvulsiva voltou a ganhar evidência nos últimos 15 anos, devido à sua eficácia. É a única terapia somática da década dos 30 que permanece em grande uso hoje. Entre 100.000 e 150.000 pacientes são submetidos à terapia por eletrochoque anualmente nos EUA, em função de condições médicas estritamente definidas.

 

A Reação Contra o Eletrochoque

Como aconteceu com a psicocirurgia, a terapia por eletrochoque foi muitas vezes usada de forma polêmica. Em primeiro lugar, ocorreram muitos casos em que o eletrochoque era usado para subjugar e controlar pacientes em hospitais psiquiátricos. Pacientes problemáticos e rebeldes recebiam várias sessões de choque por dia, muitas vezes sem sedação ou imobilização muscular adequadas.

Na década dos 70, começaram a surgir importantes movimentos contra a psiquiatria institucionalizada, na Europa e particularmente nos EUA. Juntamente com a psicocirurgia, a terapia por eletrochoque foi denunciada pelos partidários dos direitos humanos. Uma exposição desfavorável na imprensa e na TV desembocaram em uma série de processos jurídicos por parte de pacientes envolvidos em abusos da terapia por eletrochoque.

Em meados de 1970, a terapia por eletrochoque estava derrotada como prática terapêutica. Em seu lugar, os psiquiatras passaram a fazer um uso cada vez maior de novas drogas poderosas, tais como a torazina e outros fármacos antidepressivos e antipsicóticos.

Atualmente a ECT (Eletroconvulsoterapia) é um tratamento biológico altamente eficaz e bem estabelecido para transtornos psiquiátricos, com poucos e relativamente benignos efeitos colaterais é muito bem empregado mediante o uso de anestésicos e relaxantes musculares.

 

 

O "MITO DA DOENÇA MENTAL"

Em discussões do comportamento anormal, é geralmente implicado que o comportamento é um reflexo de "doença mental" e o conceito de doença mental implica em que há algo "errado" com o indivíduo de modo que ele precisa ser "tratado". No entanto, alguns observadores alegam que a doença mental é um mito; em outras palavras, não existe tal coisa como doença mental e os indivíduos não precisam ser tratados (Szasz, Ül61, 1970). Este é afastamento radical do ponto de vista usual e merece alguns  comentários antes de prosseguirmos.

A crença de que a doença mental é um mito baseia-se em três noções: Primeiramente, alega-se que o comportamento anormal é simplesmente um comportamento diferente e não necessariamente um reflexo de doença. Ou seja, os indivíduos podem ter traços de personalidade que se afastam do que a sociedade quer, mas isto não significa que os traços constituam uma doença no sentido em que um crescimento cancerigeno é uma doença.

Em segundo, um individuo pode ter uma crença incomum, mas isto não significa que o indivíduo esteja errado. Por exemplo, podemos não concordar com um indivíduo que acredita que é Deus, mas isto não significa que ele ou ela não é Deus. De fato, muitos líderes e inventores foram em algum momento considerados errados e "loucos". Ademais, mesmo se o indivíduo estiver errado, isto não significa que ele esteja doente. Se alguém comete um erro em derivar uma fórmula em um cálculo, isto significa que está doente? Poderia uma pessoa com um "delírio" simplesmente estar enganada ao invés de doente?

O terceiro argumento apresentado pelos que defendem o ponto de vista do mito é que o comportamento anormal é devido a algo de errado na sociedade ao invés de algo errado no indivíduo. Por exemplo, se um indivíduo entra em colapso em face de um estresse avassalador, o problema encontra-se no ambiente e não no indivíduo. Retrair-se ou tornar-se deprimido pode ser uma resposta racional a um ambiente irracional ao invés de uma doença. Em suma, ser diferente, estar errado ou responder a ambientes anormais não deveria ser a base para rotular um indivíduo como doente.

Os proponentes desta visão apontam que o mito da doença mental pode levar a conseqüências infelizes. Por exemplo, se rotulamos indivíduos como doentes, podemos implicitamente encorajar comportamento anormal porque este é o modo como as pessoas doentes se comportam. Além disso, rotulando indivíduos como doentes, podemos aliviá-los da responsabilidade pelo seu comportamento porque as pessoas doentes não são responsáveis por suas condições. Deveria uma pessoa que comete assassinato ser posta em liberdade porque no momento do crime estava "insana"? Finalizando, se atribuímos comportamento desviante à doença, podemos ignorar e não trabalhar sobre fatores sociais como pobreza e estresse, que podem causar comportamento anormal.

Se o conceito de doença mental está errado, por que ele é uma explicação tão popular para o comportamento? Os proponentes do ponto de vista do mito alegam que a noção de doença mental é um modo conveniente para lidar com pessoas que nos perturbam. Por exemplo, se rotulamos como doentes pessoas cujo comportamento consideramos perturbador, podemos vê-las como diferentes de nós, o que nos faz sentir melhor em relação a nós mesmos. Também, se as rotulamos de doentes podemos justificar trancá-as de modo que elas não mais nos perturbem. Como um apoio para isto, os proponentes citam casos de indivíduos que foram trancados por muitos anos, simplesmente porque estavam aborrecendo outras pessoas. Os indivíduos podem não ter estado "fora de si", mas, os trancando, os indivíduos perturbadores ficavam fora na nossa vista e fora da nossa mente. Por fim, usando a doença mental como uma explicação para o comportamento desviante, evitamos responsabilidade pelos problemas sociais que estão por trás do comportamento afastado da norma. Ou seja, dizendo que você está doente e deveria ser mudado, nós não teremos que assumir a difícil tarefa de mudar a sociedade .

A doença mental é um mito ou uma realidade? A noção de mito é um afastamento radical do ponto de vista tradicional, mas de fato tem mérito. Há algumas formas sérias de comportamento que resultam de fatores ambientais ao invés de doença. Por exemplo, o transtorno psicótico breve envolve alucinações, delírios e uma ruptura dos processos de pensamento, porém, em muitos casos, o transtorno é considerado como uma reação a um estresse avassalador e os sintomas se dissiparão quando o estresse for reduzido, independentemente de o indivíduo receber ou não tratamento. Também é o caso de que a definição de doença mental pode ter sido um pouco estendida. Por exemplo, se uma criança está apresentando dificuldade em aritmética, poderia ser diagnosticada como sofrendo de transtorno matemático. De forma similar, se você está indevidamente preocupado em relação a sua aparência, você poderia ser diagnosticado como sofrendo de transtorno dismórfico.

Estas são realmente doenças psiquiátricas? Também não há dúvida de que, às vezes, o sistema é abusado ou falha, de modo que indivíduos são encarcerados em hospitais de forma injustificada ou por engano. No entanto, há também indivíduos que experimentam sérios problemas na ausência de estresse ambiental e cujos sintomas podem ser aliviados apenas com alguma forma de terapia. Além disso, conforme ilustrarão os estudos de casos neste livro, alguns indivíduos sofrem terrivelmente dos seus sintomas bizarros que não podem ser cancelados simplesmente como diferenças de personalidade ou respostas racionais a uma sociedade irracional. Os sérios e debilitantes sintomas dos quais estas pessoas sofrem não são conseqüência de sugestão e não estão sob controle voluntário. Claramente, alguns indivíduos estão doentes.

Hoje em dia, a noção de que a doença mental é um mito é menos popular do que há 20 anos. Esta mudança pode refletir um aumento, em nosso entendimento, do comportamento anormal ou pode refletir uma sociedade crescente mente conservadora. Embora agora concordemos geralmente que as doenças mentais existem, é importante que não ignoremos a voz da discordância neste tópico. Ao considerar o comportamento anormal, devemos tomar cuidado constantemente para que não só descartemos comportamentos desagradáveis como devidos a doença e não devemos permitir que o sistema seja mal-utilizado acidental ou intencionalmente. A doença mental não é um mito, mas a possibilidade levanta importantes questões que devemos manter em mente.

 

Sem comentários:

Enviar um comentário