A HISTORIA DA LOUCURA
Demonologia
A crença de que o comportamento anormal é causado por forças
sobrenaturais que assumem o controle da mente ou do corpo é anterior ao começo
da história escrita. Evidências na forma de rolos de papiro, monumentos e os
antigos livros da Bíblia revelam que os antigos egípcios, árabes e hebreus
acreditavam que o comportamento anormal era decorrente de possessão por forças
sobrenaturais, como deuses irados, maus espíritos e demônios.
A abordagem típica para expulsar os demônios era usar encantamentos,
preces ou poções para persuadí-los a irem embora. Em alguns casos, diversas
formas de punição física, como apedrejar ou açoitar, eram defendidas como um
meio de forçar os demônios para fora de uma pessoa possuída
Hipócrates (460-377 a.C.)
Concepção
sobrenatural da doença.
Considerava-se a
epilepsia, por exemplo, como uma doença sagrada, chegando o próprio Hipócrates
a afirmar que a referida doença lhe parecia "não mais divina nem mais
sagrada que outras doenças".
Acreditava que a
doença mental consistia numa alteração ou patologia cerebral por desequilíbrio
dos humores básicos (sangue, bílis amarela, bílis negra e fleuma).
Platão (429-347 a.c.)
Pensava que as
alterações mentais dependiam de uma parte orgânica, de outra ética e de outra
divina.
Assim como os
gregos, os romanos defendiam um tratamento humanitário para estes doentes, em
vez do encerramento em cárceres
Galeno (130-200 a.c.)
Afirmava que as
doenças mentais poderiam ter uma origem orgânica ou psíquica, dependendo a saúde
do equilíbrio entre o racional, o irracional e a parte sensual da alma.
Após refletir
sobre esses dados e sobre a época em que estão enquadrados, poder-se-ia pensar,
com otimismo, que tudo o que está relacionado com o conhecimento da mente ia
por muito bom caminho
IDADE MEDIA
A religião
tornou-se a força dominante
A vida era
percebida como uma luta entre forças do bem e forças do mal. sendo estas dirigi
das pelo demônio que. considerava-se. afligia as pessoas perturbadas.
que as pessoas
perturbadas poderiam ser acusadas de ser agentes do demônio (não meramente suas
vítimas) e, portanto. rotuladas de bruxas.
Em 1486 foi
publicado um manual, o Malleus Maleficarum (O martelo das bruxas), para
identificar e examinar bruxas. Infelizmente, para os mentalmente doentes, o
manual igualava comportamento anormal com possessão pelo demônio e supunha-se
que os indivíduos possuídos fossem bruxas. Para expulsar o demônio, as bruxas
tinham que ser mortas. muitas vezes queimadas vivas.
SÉC. XIII ao
SÉC. XV
NAU DOS LOUCOS - Barcos
que levavam os insanos de uma cidade para outra. Os loucos eram muitas vezes
escorraçados das cidades. A loucura ocupa o lugar na literatura e nas artes.
Sentido Místico
Século XVI - INTRODUÇÃO DO CUIDADO HUMANITÁRIO
Reconhecimento
de que as pessoas perturbadas precisavam de atendimento e não de exorcismo ou
condenação. Em 1547, o hospital Saint Mary of Bethlehem. em Londres. foi
dedicado ao cuidado de pessoas perturbadas
Prática de Internamento
Os primeiros asilos eram mais como prisões do que cormo hospitais.
Nada era feito para os internos. além de confiná-los sob horríveis condições.
Eles eram muitas vezes acorrentados à parede. às vezes de um modo que os
impedia de deitarem-se para dormir
Grande número de pessoas extremamente perturbadas eram confinadas em
alojamentos próximos. o que resultava em um espantoso caos e confusão
As condições
nestes primeiros asilos constituíam uma fonte de divertimento e ingressos para
ver os pacientes eram realmente vendidos ao público
SEC XVII: desacorrentou os doentes
Philippe Pinel (1745-1826)
Primeiro alienista, começou a separar e classificar os diversos
tipos de "desvios" ou "alienação mental", com o objetivo de
estudá-Ios e tratá-Ios. Surgem os manicômios - Instituição de estudo e
tratamento de alienação mental. " Tratamento Moral" - afastamento dos
doentes do contato com todas as influências da vida social. Psiquiatria como
finalidade médica
William Tuke (1732-1822) -
"retiro" para pacientes em uma
propriedade rural. Sua abordagem embasava-se na noção de que repouso. ar fresco
e a exposição à natureza tinham valor terapêutico
Benjamin Rush (1745-1813) o "pai da psiquiatria norte-americana" introduziu
tratamento humanitário no Pennsylvania Hospital em 1783
FINAL DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX
INTRODUÇÃO DAS EXPLICAÇÕES PSICOLÓGICAS
A crença de que as causas do comportamento anormal eram psicológicas
pode ser traçada a Europa do século XIX
MESMER (1734- 1815)
Acreditava que o comportamento anormal era decorrente de um
desequilíbrio de determinados "líquidos magnéticos" no corpo (uma
causa fisiológica). Para corrigir o desequilíbrio, Mesmer fazia com que grupos
de pacientes se sentassem ao redor de uma grande banheira cheia de um
"líquido magnético".
Foi acusado de charlatanismo mas contribuiu para que outros
estudassem e concluíssem que fatores psicológicos e interpessoais desempenhavam
um papel importante em muitos transtornos.
É considerado o
pai do hipnotismo, originalmente conhecido como mesmerismo.
JEAN-MARTIN CHARCOT (1825-1893)
Neurologista, estava interessado em pacientes que sofriam do que era
então chamado histeria. Os transtornos histéricos envolvem sintomas fisicos que
não apresentam uma base orgânica demonstrável. O interesse de Charcot em
pacientes com transtornos histéricos e sua conclusão de que seus sintomas
tinham uma base psicológica prepararam o palco para o trabalho de Freud
FREUD - (1856-1939)
Neurologista . através da experiência clinica experiência clínica formulou a hipótese de
que a mente humana é semelhante a um iceberg - a maior porção está
completamente encoberta. Em termos freudianos, a vasta parte oculta da mente é
chamada de inconsciente e ela contém desejos, medos e conflitos poderosos que
exercem uma forte influência sobre o comportamento da pessoa, embora a pessoa
esteja completamente inconsciente de sua existência
PAVLOV (1849-1936)
Pavlov descobriu que se um estímulo (carne) que provocava uma
resposta (salivação) fosse consistentemente combinado a um estímulo neutro (uma
sineta), este inicialmente não provocava a resposta, mas após muitas
combinações o estimulo neutro podia provocar a resposta. Hoje chamamos este
processo de condicionamento clássico.
THORNDIKE (1874-1949)
Estava estudando como os gatos resolviam problemas. Apontou que o
comportamento é governado pelas gratificações e punições, um processo que ele
denominou de condicionamento operante (o termo operante vem do fato de que o
animal age ou opera para obter gratificações e evitar punições).
WATSON (1878-1958)
Aceitou a noção de condicionamento e ativamente promoveu a idéia de
que ele poderia ser usado para explicar o comportamento normal e anormal nos
humanos. sugeriu que os medos (fobias) são decon entes de condicionamento
clássico. O comportamentalismo rapidamente tornou-se popular devido ao seu
objetivo, base científica e por suprir técnicas para mudar o
comportamento(condicionar).
SKINNER (1904-1992)
Continuou o refinamento do condicionamento operante. O
comportamentalismo supriu a base para a perspectiva da aprendizagem (ou
condicionamento) sobre o comportamento anormal.
MODELO E PRÁTICA
MANICOMIAL
- Relação
Tutelar para com o louco Instituição asilar
- Paradigma
psiquiátrico clássico - transforma a loucura em doença e produz uma demanda
social para tratamento e assistência, distanciando o louco do espaço social.
- Relação
vertical: Equipe X Paciente Alienação do sujeito
- Coisificação
-
Institucionalização total: algo que sempre se revela como uma forma de
regressão que se sobrepõe á doença original em indivíduos psiquicamente frágeis
ou doentes, graças ao processo de aniquilamento e destruição individual a que
são submetidas pela vida asilar.
- Poder centrado
no médico e na medicalização
1960 - Corrente antipsiquiátrica
Questionava a psiquiatria convencional enquanto conhecimento
científico, propondo serem frágeis as próprias bases que fundamentam a
existência da doença mental. “...a loucura não é doença, mas um reflexo do
desequilíbrio social e familiar do meio onde o indivíduo se encontra inserido,
devendo o empenho em sua cura se localizar nestas causas, excluindo as
disfunções orgânicas tão propagadas anteriormente.”
REFORMA PSIQUIATRICA – Franco Basaglia
"Qualquer que fosse a forma de administrar a instituição ou
manicômio, este seria sempre um lugar de controle social e não de cura" -
Basaglia, 1979.
Franco Basaglia,
que era médico e psiquiatra. Inicia um movimento na Itália, que foi nomeado de
Psiquiatria Democrática Italiana.
Precursor da
reforma psiquiátrica na ano de 1961, - Basaglia criticava a postura tradicional
da cultura médica, que transformava o indivíduo e seu corpo em meros objetos de
intervenção clínica.
Ele assumia uma posição crítica para com a psiquiatria clássica e
hospitalar, por esta se centrar no princípio do isolamento do louco, sendo
portanto excludente e repressora.
Ao invés de ter
optado pela negação da doença, como os antipsiquiatras, propôs que o saber da
psiquiatria fosse reformulado
A partir de 1970, assume a direção de um grande manicômio da cidade
de Trieste, Itália. Onde iniciou o processo de fechamento e promoveu a
substituição do tratamento hospitalar e manicomial por uma rede territorial de
atendimento ( serviços de atenção comunitários, emergências psiquiátricas em
hospital geral, cooperativas de trabalho protegido, centros de convivência e
moradias assistidas ).
1978 - "Lei Basaglia".
Aprovada na Itália a chamada "Lei 180" ou "Lei da
Reforma Psiquiátrica Italiana".
A inovação da
metodologia empregada se fez com o recurso ao hospital-dia, que permitia a
continuidade da inserção do indivíduo em seu meio social e familiar na
constância do tratamento.
PSIQUIATRIA NO BRASIL - SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX
Construção dos primeiros estabelecimentos específicos para doentes
mentais
Hospício Pedro
II, no Rio de Janeiro, anexo à Santa Casa de Misericórdia da Corte 2, criado
pelo Decreto 82 de 1841, funcionando desse ano até 1852 como Hospício
Provisório
Século XX - Surgem os primeiros especialistas.
Até então, os médicos dos asilos, os chamados alienistas, eram, em
grande parte, clínicos gerais e legistas.
Fez-se
necessário, então, uma regulamentação desta atividade, que começava a ampliar
seu campo de atuação na medida em que aumentava a quantidade de asilos pelo
território brasileiro. A respeito da prática do alienismo, que orientara toda a
conduta psiquiátrica posterior:
"... o alienismo
instaura uma nova relação da sociedade com o louco: a relação de tutela, que se
constitui numa dominação/subordinação regulamentada, cuja violência é
legitimada com base na competência do tutor ‘versus’ a incapacidade do
tutelado, caracterizado como ser incapaz de intercâmbios racionais isento de
responsabilidade e, portanto, digno de assistência. Além do estatuto de doente,
ganha o louco o de menor, ficando o médico, no caso o psiquiatra, como seu tutor,
respondendo assim ao desafio da administração e controle legal da loucura na
sociedade liberal."
O DECRETO 1.132/1903 E SEUS REFLEXOS
Iniciativa da implantação de uma legislação referente aos doentes
mentais no Brasil
Estava explícita
a influência sofrida da lei francesa de 1838 neste decreto, que encerrava, além
da intenção de unificar a assistência psiquiátrica no país, o estímulo à
construção de asilos estaduais e a proibição definitiva do cerceamento de
doentes mentais, "alienados" na verdade, em prisões.
O Decreto 1.132 é o reflexo do empenho desta nascente classe médica,
a psiquiátrica, em reservar a si mesma um espaço de atuação. Segunda esta lei,
o único lugar autorizado a receber loucos era o hospício, por reunir condições
adequadas, e toda internação estaria sujeita ao parecer do médico, detentor da
"verdade" no que se refere à alienação mental.
O louco não possui a capacidade de gerir seus bens e a sua pessoa,
devendo estar submetido a um curador, que também é o responsável pela guarda
provisória dos bens do doente.
Em 1927, um decreto estabeleceu a distinção entre
"psicopata", todo doente mental, e "alienado", que se
referia ao doente mental perigoso, sujeito à incapacidade penal e civil. Desta
forma, a internação do alienado passou a ser obrigatória.
Década de 1930
Conexão da psiquiatria brasileira ao pensamento alemão,
desvinculando-se do modelo francês. O significado desta reestrutura de corrente
doutrinária se fez na atenção dada ao biologicismo, próprio do sistema alemão,
com a justificação da doença mental por argumentos que levavam em conta
caracteres étnicos, sociais e políticos, fundamentando um direcionamento para a
higiene mental, com particularidades racistas, xenofóbicas e eugenísticas
DECRETO 24.559/1934 - governo de Getúlio Vargas
O termo alienado foi retirado do ordenamento jurídico, que passou a
referir-se somente ao psicopata, considerada uma denominação mais ampla.
A incapacidade
do doente mental foi reafirmada, sendo facilitado o recurso à internação,
válido por qualquer motivo que torne incômoda a manutenção do psicopata em sua
residência
O Decreto 24.559 de 1934 revogou o anterior de 1903 e "Dispõe
sobre a profilaxia mental, a assistência e a proteção à pessoa e aos bens dos
psicopatas, a fiscalização dos serviços psiquiátricos (...)"
A internação era
a regra, e o tratamento extra-hospitalar a exceção, bastando a mera suspeita de
existência da doença mental para que o indivíduo fosse cerceado em asilos, com
a subseqüente supressão de seus direitos civis, e submissão à tutela do Estado.
A REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA
1970 - Reforma
Psiquiátrica brasileira
Manifestações de vários setores da sociedade no sentido de reduzir o
cerceamento da liberdade individual na forma de manicômios.
Buscou-se um
novo enfoque no modelo assistencial, através da promoção da saúde mental, ao
invés de direcionar a ação apenas ao desequilíbrio psíquico já instalado.
Á partir de 1978
Movimentos protagonizados pelos trabalhadores em Saúde Mental.
Apesar do enfoque coorporativista começa a organizar e a produzir crítica ao
saber e a prática psiquiátrica clássica, a sua função tutelar e segregadora,
acontecendo também uma série de denúncias públicas sobre as péssimas condições
a que estavam submetidos os portadores de sofrimento mental internados nas instituições
hospitalares.
1979
Rio de Janeiro e São Paulo começam a se organizarem em Associações
de usuários e familiares, com o objetivo de envolvê-Ios no movimento
Fim dos anos 80
Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental, lançando o lema
"Por uma sociedade sem manicômios" e estimulando a produção
legislativa de vários estados no sentido de proceder à desistitucionalização.
1987 - Surgimento dos CAPS
em São Paulo
O tratamento deveria ser feito, de preferência, em serviços
comunitários de saúde mental, nos moldes do hospital-dia, tais como o CAPS
(Centro de Atenção Psicossocial). Estes são proporcionados pelo setor público,
retirando o monopólio que durante quase todo o século XX fora exercido pela
iniciativa privada, na forma de hospitais psiquiátricos particulares, os quais,
não raro, negligenciavam o tratamento adequado a fim de receber mais recursos
vindos do Estado, inclusive na forma de internamentos desnecessários
Neste contexto, foi invertida a concepção da lei anterior, que
estabeleceu o internamento como princípio basilar. Este passaria a ser feito
somente quando os recursos extra-hospitalares não se mostrassem suficientes,
tendo duração mínima e, ainda assim, sempre mantendo em vista o posterior
retorno do paciente ao seu meio social
É perceptível a intenção do legislador em proteger o portador de
transtorno mental contra as internações arbitrárias, possibilitando a este,
sempre que possível a interferência em seu tratamento
As internações ficam divididas em 3 categorias: as voluntárias, nas
quais existe o consentimento do paciente; as involuntárias, sem a anuência do
paciente e por solicitação de terceiro; e as compulsórias, que são determinadas
judicialmente. Estas duas últimas são controladas pelo Ministério Público, que
deve ser notificado das mesmas em até 72 horas após sua ocorrência. Este órgão
deve exercer o controle por ser ele o responsável, em nosso ordenamento
jurídico, pela defesa os interesses difusos, coletivos e individuais
indisponíveis, tal como estabelecido no caput do art.127 da Constituição
Federal de 1988
1989 - DEPUTADO
PAULO DELGADO
Tomando por modelo a Lei Basaglia italiana projeto Paulo delgado apresenta projeto que
regulamentava os direitos dos doentes mentais em relação ao tratamento e
indicava a extinção progressiva dos manicômios aos serviços substitutivos
Projeto de Lei pelo Deputado Paulo Delgado
Promulgada no Brasil, em 6 de abril de 2001, a Lei 10.216, a qual
"Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de
transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental".
Essa lei foi sancionada com modificações importantes em relação ao projeto
original.
DIFERENÇAS DE PARADIGMAS
PSIQUIATRIA
CLÁSSICA
|
REABILITAÇÃO
PSICOSSOCIAL:
|
A)
Manicômio
|
B)
Rede substitutiva
|
B)
Atenção centrada na doença
|
C)
Atenção mais abrangente, integral, promovendo a saúde e a sustentabilidade
dos sujeitos em sofrimento mental
|
C)
Hierarquia centrada no poder médico
|
D)Implementação
de equipes multidisciplinares, continentes ao sofrimento e instrumentos de
socialização e inclusão dos sujeitos, considerando o vínculo como essencial
para uma clinica de qualidade
|
D)
Excessiva medicalização . (conter e vigiar a crise e punir seus excessos)
|
D)
Criação de espaços para reflexões, produção de sentidos e construção de autonomia
|
E)
Cultura médica, concentradora de poderes e saberes
|
E)
Resgate de culturas, saberes e sentidos da comunidade
|
F)
Anulação dos direitos, controle social
|
F)
Estimulação da participação comunitária, direitos dos sujeitos como parte
integrante do processo de tratamento (implicação subjetiva)
|
DISPOSITIVOS INSTITUCIONAIS DA REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL
- Centro de
convivência,
- Cooperativas
de Trabalho Protegido, Residências Terapêuticas,
- Ambulatórios
de Saúde Mental,
- Equipes
multi-profissionais,
- Unidades
Básicas de saúde (UBS)
- Programa de
Saúde da Família (PSF)
- Enfermaria
psiquiátrica em hospitais gerais Internações Psiquiátricas
- CAP S ( I, II,
II )
- Prontos
Socorros (PS)
DEFININDO O COMPORTAMENTO ANORMAL (Holmes, 1997)
Alguns teóricos definem o comportamento anormal do ponto de vista do
indivíduo cujo comportamento está sendo considerado, enquanto outros teóricos
definem o comportamento anormal do ponto de vista da cultura na qual o
indivíduo está vivendo
1.Ponto de vista do indivíduo: A atenção é focalizada
primeiro na sofrimento do indivíduo
Os indivíduos
são definidos como “anormais” quando estão ansiosos, deprimidos, insatisfeitos
ou de outro modo seriamente perturbados.
2.Capacidade: A atenção é focalizada na incapacidade do
indivíduo
Os indivíduos
são definidos como “anormais” quando não
são capazes de funcionar pessoal, social, fisiológica ou profissionalmente
3. Ponto de vista cultural: a atenção é focalizada em desvios da norma.
Por exemplo: um
indivíduo que alucina será definido como anormal se a maioria das pessoas não
alucina. O que é normal em uma cultura,
pode ser normal em outra.
Transtorno ou doença mental
É difícil definir com exatidão científica esta expressão, apesar de
"a loucura ser uma das poucas coisas que estão bem distribuídas pelo
mundo" (Basaglia).
A doença mental consiste, de forma empírica, num desequilíbrio psíquico que se pode
manifestar através de diversos sinais e sintomas, e que dificulta o
desenvolvimento da vida habitual da pessoa.
Fatores de origens diversas
(biológicos, psicológicos e sociais) podem alterar o equilíbrio dinâmico que
mantém as pessoas num estado relativo de saúde, descompensando-as. O mais
freqüente é a ocorrência de vários fatores influindo no psiquismo humano, e que
podem constituir um risco de alteração da saúde mental.
A principal diferença entre as doenças físicas e as mentais é que
estas podem ser caracterizadas pela perda do autodomínio, o que resulta muito
ameaçador para a maioria das pessoas, que as podem ver como perturbadoras e
intoleráveis, levando à sua rejeição, negação etc. Talvez esta situação possa
ter tido influência até agora, dificultando a abordagem do fato psiquiátrico
com rigor e semjuízos pré-formados.
ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA
EVOLUCÃO DOS CUIDADOS DE
ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL
Função de cuidar de crianças
e de pessoas necessitadas é principalmente desempenhada pela mulher. Mais
tarde, essa função foi atribuída a mulheres e homens religiosos, com o objetivo
de servir a Deus e ao próximo.
Em 1932, a Ordem de 16 de Maio veio a regular as atividades dos
práticos e enfermeiras que trabalham em centros psiquiátricos
Em 1955 é criado o PANA (Patronato Nacional de Assistência
Psiquiátrica), com capacidade para determinar os estudos e as práticas mínimas
a realizar pelo pessoal técnico e auxiliar
Em 1970, reconhece-se oficialmente a especialidade de enfermagem
psiquiátrica, estudos com uma duração de dois anos letivos a cargo de escolas
dependentes das cátedras de psiquiatria das faculdades de medicina.
Tal como a psiquiatria, a enfermagem teve como sua primeira função
conter, isolar e aplicar tratamentos biológicos ou somáticos
1947 - HELENA WILLIS RENDER
Primeira autora a introduzir a idéia de que o relacionamento entre o
(a) enfermeiro (a) e o paciente, é de um potencial terapêutico significativo
1952 - HILDEGARD E. PEPLAU -
ENFERMEIRA
Enfoque no potencial terapêutico do relacionamento de pessoa para
pessoa. Desde então, a enfermagem psiquiátrica vem ampliando sua visão
utilizando os conceitos originalmente propostos por Render. Passou a se
preocupar mais com as relações interpessoais.
O TRABALHO DA ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA
O trabalho da enfermagem psiquiátrica brasileira era vista como uma
forma de punir, vigiar e controlar o
doente mental pelos seus atos, não visando a assistência ao doente mental.
A desinstitucionalização já é um passo para a reforma psiquiátrica,
mas há muitas concepções a serem mudadas como ultrapassar os limites de
atendimento baseado na farmacoterapia, a necessidade dos familiares, da
sociedade, dos profissionais aprenderem a olhar o cenário com “outros olhos”,
promover meios para que o doente mental consiga se reintegrar na sociedade,
explorando seu potencial, seus talentos, aquilo que faz sentido para ele.
A enfermagem psiquiátrica tem
avançado neste processo, que não é uma tarefa fácil devido a necessidade de mudanças no pensamento e no
modo de agir e também ter bem definido o papel da enfermagem dentro da equipe
multiprofissional
O OBJETIVO DA ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA HOJE:
Contribuir para que a pessoa reencontre e/ou enriqueça o equilíbrio
dinâmico de que necessita para viver
Segundo Rosette
Poletti, algumas das facetas que reúne a enfermagem psiquiátrica são:
• Cuidados
globais não só em aspectos instrumentais, mas também psicossociais e
espirituais.
• Papel dinâmico
na criação de uma atmosfera humana que permita ao paciente reencontrar a
harmonia e a prosperidade.
• Participação na vida quotidiana dos
pacientes, o que permite observar e recolher dados para o diagnóstico,
tratamento e reabilitação.
• Relação
bipessoal, que pode ser terapêutica quando o pessoal de enfermagem é
responsável e consciente dos próprios conteúdos psicológicos, conhece os seus
próprios limites e reconhece a sua própria identidade.
• Papel
pedagógico de contribuição na formação de novos profissionais
É essencial que os enfermeiros tenham um amplo conhecimento no setor
de atuação através de especialização, capacitação e educação continuada que
enfoque a qualidade de assistência psiquiátrica, mudando assim sua visão, tendo
uma posição mais crítica e saber seu papel dentro da equipe multiprofissional.
Saúde mental - aspecto da saúde em geral que, a permtir de uma concepção
integral do ser humano como entidade biopsicossocial
Podemos
considerar que um indivíduo reage de forma saudável se, no decorrer do seu
desenvolvimento, se mostra capaz de uma adaptação flexível diante dos
conflitos, de forma que fiquem salvaguardadas as suas necessidades instintivas
fundamentais, ao manter a capacidade de suportar as frustrações e a angústia
que estas criam". (P. Bernard )
O Comitê de Peritos da OMS
Saúde mental é "A capacidade de estabelecer relações
harmoniosas com os demais e a contribuição construtiva nas modificações do
ambiente físico e social".
Para Ewalt e Farhsworth "A capacidade de estabelecer relações harmoniosas com os
demais e a contribuição construtiva nas modificações do ambiente físico e
social".
Caraterísticas que deve
possuir a pessoa mentalmente saudável:
- Não ter sintomas
e doença, sentindo-se vital e descontraído.
- Conhecer a si
mesmo.
- Manter contato
com a realidade, o que implica aceitar as
próprias
limitações assim como a capacidade em fazer frente às situações vitais com
critérios realistas.
- Manter uma
vida emocionalmente equilibrada.
- Adaptar-se à
vida em sociedade.
- Encontrar
motivos de satisfação razoáveis na vida diária.
- Ter convicções
acerca do valor pessoal e do sentimento
da vida.
- Desenvolver o
espírito criador na vida pessoal.
PSIQUIATRIA - "ciência que trata as doenças mentais" -
"área do conhecimento médico-científico que se ocupa do estudo dos
transtornos mentais nos seus diferentes aspectos: etiológico, clínico,
diagnóstico, prognóstico, de prevenção e tratamento.
TRATAMENTOS
PSICOCIRURGIA
A lobotomia, mais apropriadamente chamada leucotomia (já que
lobotomia refere-se a cortar as ligações de qualquer lobo cerebral) é uma
intervenção cirúrgica no cérebro, onde são seccionadas as vias que ligam os
lobos frontais ao tálamo e outras vias frontais associadas. Foi utilizada no
passado em casos graves de esquizofrenia. A lobotomia foi a técnica pioneira e
com maior sucesso da psicocirurgia.
Foi desenvolvida em 1935 pelo médico neurologista português António
Egas Moniz (1874-1955). Recebeu com este trabalho o prêmio Nobel da Medicina e
Fisiologia em 1949.
A psicocirurgia hoje, é definida como a “implantação de eletrodos,
destruição ou estimulação direta do cérebro por qualquer meio”, tendo como
propósito primário “controlar, mudar ou afetar qualquer distúrbio emocional ou
comportamental”.Esta definição prevalece até hoje. são utilizadas apenas em
última instância caso todos os outros tratamentos possíveis tenham-se revelado
ineficazes. É assim praticada em alguns casos de dor crónica intratável
(tratamento paliativo), neurose obsessiva, ansiedade crónica ou depressão
profunda prolongada
TERAPIA POR CHOQUE
FEBRE - Febre induzida por malária, para tratar paresia neurosifilítica,
descoberta em Viena por Julius Wagner-Jauregg, em 1917; Ele observou que
pacientes loucos melhoravam consideravelmente após sobreviverem à febre
tifóide, erisipela e tuberculose. Impressionado pela coincidência de que todos
estes pacientes tinham episódios de febre alta e inconsciência, ele começou a
fazer experimentos com vários métodos de induzir febre, tais como infecção por
erisipela, injeções de tuberculina, tifóide, etc. sem muito sucesso
INSULINA - Em Berlim, em 1927,
Manfred J. Sakel descobriu acidentalmente, ao causar convulsões com uma
dose excessiva de insulina, que o tratamento era eficaz para pacientes com
vários tipos de psicoses, particularmente a esquizofrenia Ele provocou um coma
superficial em uma mulher viciada em morfina, usando uma injeção de insulina, e
obteve uma notável recuperação de suas faculdades mentais.
O entusiamo inicial foi seguido pela diminuição no uso da terapia
por coma insulínico, depois que estudos controlados adicionais mostraram que a
cura real não era alcançada e que as melhoras eram na maioria das vezes
temporárias.
Convulsões Químicas e
Esquizofrenia - Ladislaus von Meduna estudou os
cérebros e as histórias de doença mental de esquizofrênicos e epilépticos, e
notou que parecia existir um "antagonismo biológico" entre estas duas
doenças do cérebro. Meduna raciocinou então que convulsões epilépticas
"puras" induzidas artificialmente poderiam ser capazes de
"curar" a esquizofrenia.
A comunidade científica reconheceu que a teoria de incompatibilidade
biológica entre convulsões e esquizofrenia não era verdadeira, mas que as
convulsões provocadas artificialmente tinham o seu valor em psiquiatria.
Devido à aparência de muitos métodos para tratar doenças mentais,
incluindo neurolépticos e terapia eletroconvulsiva, o metrazol foi gradualmente
descontinuado no final dos anos 40 e não mais utilizado. Atualmente, sua
importância é unicamente histórica. O advento do tratamento das psicoses usando
choque fisiológico aumentou a oposição entre duas escolas de pensamento em
psiquiatria: a psicológica e a biológica
A TERAPIA POR CHOQUE
ELETROCONVULSIVO
Em 1937, um neurologista italiano chamado Ugo Cerletti estava
convencido que as convulsões induzidas por metrazol eram úteis para o
tratamento de esquizofrenia, mas muito perigosas e incontroláveis para serem
aplicadas (naquele tempo não havia um antídoto para parar as convulsões, como
acontecia com a insulina). Além disso, os pacientes tinham muito medo da
terapia.
Cerletti sabia que um choque elétrico aplicado à cabeça produzia
convulsões. A idéia de usar o choque eletroconvulsivo em seres humanos ocorreu-lhe
pela primeira vez ao observar porcos sendo anestesiados com eletrochoque, antes
de serem abatidos nos matadouros de Roma
Eles inicialmente experimentaram vários tipos de dispositivos em
animais, até determinarem os parâmetros ideais e aperfeiçoarem a técnica, antes
de iniciarem uma série de eletrochoques em sujeitos humanos (com esquizofrenia
aguda). Após 10 a 20 eletrochoques em dias alternados, a melhora na maioria dos
pacientes começou a se tornar evidente. Um dos benefícios inesperados do eletrochoque
transcraniano foi que ele provocava amnésia retrógrada, ou seja, uma perda de
todas as memórias de eventos imediatamente anteriores ao choque, incluindo a
sua percepção. Assim, os pacientes não tinham sentimentos negativos
relacionados à terapia, como acontecia com o choque por metrazol. Além disso, o
eletrochoque era mais seguro e mais bem controlado, e menos perigoso para o
paciente do que o metrazol.
Pesquisadores que adotaram o método de Cerletti-Bini logo
descobriram que ele parecia ter efeitos espetaculares sobre os distúrbios
afetivos. De acordo com E.A. Bennett, 90 % dos casos de depressão severa que
eram resistentes a todos os tratamentos, desapareceram após três ou quatro
semanas de eletrochoques. Logo, o curare e escopolamina estavam sendo usados em
conjunto com a terapia eletroconvulsiva, e gradualmente substituíram o choque
induzido por insulina e metrazol. O eletrochoque começava então a sua longa
jornada como a terapia de choque de escolha, na maioria dos hospitais e asilos
ao redor do mundo.
Outros tipos de terapia por choque foram brevemente testados, tais
como a indução de febre por meio de microondas radiomagnéticas, anóxia cerebral
transitória induzida pela respiração de uma mistura de oxigênio e nitrogênio, e
pela crioterapia (redução da temperatura do corpo). Os resultados foram dúbios
na maioria das vezes, e estas técnicas foram logo abandonados em favor da
terapia eletroconvulsiva, mais prática, efetiva e barata.
Aperfeiçoamentos significativos na técnica de eletrochoque foram feitos
desde então, incluindo o uso de relaxantes musculares sintéticos, tais como
succinilcolina, a anestesia de pacientes com agentes de curta duração, a
pré-oxigenação cerebral, o uso de EEG para monitoração da crise, e melhores
dispositivos e formas de onda para ministrar o choque transcraniano. Apesar
destes avanços, a popularidade da terapia eletroconvulsiva diminiu grandemente
nas décadas de 60 e 70, devido ao uso de neurolépticos mais efetivos e como
resultado de um forte movimento politicamente antagônico ao eletrochoque em
psiquiatria, como veremos abaixo. Entretanto, a terapia eletroconvulsiva voltou
a ganhar evidência nos últimos 15 anos, devido à sua eficácia. É a única
terapia somática da década dos 30 que permanece em grande uso hoje. Entre 100.000
e 150.000 pacientes são submetidos à terapia por eletrochoque anualmente nos
EUA, em função de condições médicas estritamente definidas.
A Reação Contra o
Eletrochoque
Como aconteceu com a psicocirurgia, a terapia por eletrochoque foi
muitas vezes usada de forma polêmica. Em primeiro lugar, ocorreram muitos casos
em que o eletrochoque era usado para subjugar e controlar pacientes em
hospitais psiquiátricos. Pacientes problemáticos e rebeldes recebiam várias
sessões de choque por dia, muitas vezes sem sedação ou imobilização muscular
adequadas.
Na década dos 70, começaram a surgir importantes movimentos contra a
psiquiatria institucionalizada, na Europa e particularmente nos EUA. Juntamente
com a psicocirurgia, a terapia por eletrochoque foi denunciada pelos
partidários dos direitos humanos. Uma exposição desfavorável na imprensa e na
TV desembocaram em uma série de processos jurídicos por parte de pacientes
envolvidos em abusos da terapia por eletrochoque.
Em meados de 1970, a terapia por eletrochoque estava derrotada como
prática terapêutica. Em seu lugar, os psiquiatras passaram a fazer um uso cada
vez maior de novas drogas poderosas, tais como a torazina e outros fármacos
antidepressivos e antipsicóticos.
Atualmente a ECT (Eletroconvulsoterapia) é um tratamento biológico
altamente eficaz e bem estabelecido para transtornos psiquiátricos, com poucos
e relativamente benignos efeitos colaterais é muito bem empregado mediante o
uso de anestésicos e relaxantes musculares.
O "MITO DA DOENÇA MENTAL"
Em discussões do comportamento anormal, é geralmente implicado que o
comportamento é um reflexo de "doença mental" e o conceito de doença
mental implica em que há algo "errado" com o indivíduo de modo que
ele precisa ser "tratado". No entanto, alguns observadores alegam que
a doença mental é um mito; em outras palavras, não existe tal coisa como doença
mental e os indivíduos não precisam ser tratados (Szasz, Ül61, 1970). Este é
afastamento radical do ponto de vista usual e merece alguns comentários antes de prosseguirmos.
A crença de que a doença mental é um mito baseia-se em três noções:
Primeiramente, alega-se que o comportamento anormal é simplesmente um
comportamento diferente e não necessariamente um reflexo de doença. Ou seja, os
indivíduos podem ter traços de personalidade que se afastam do que a sociedade
quer, mas isto não significa que os traços constituam uma doença no sentido em
que um crescimento cancerigeno é uma doença.
Em segundo, um individuo pode ter uma crença incomum, mas isto não
significa que o indivíduo esteja errado. Por exemplo, podemos não concordar com
um indivíduo que acredita que é Deus, mas isto não significa que ele ou ela não
é Deus. De fato, muitos líderes e inventores foram em algum momento
considerados errados e "loucos". Ademais, mesmo se o indivíduo
estiver errado, isto não significa que ele esteja doente. Se alguém comete um
erro em derivar uma fórmula em um cálculo, isto significa que está doente?
Poderia uma pessoa com um "delírio" simplesmente estar enganada ao invés
de doente?
O terceiro argumento apresentado pelos que defendem o ponto de vista
do mito é que o comportamento anormal é devido a algo de errado na sociedade ao
invés de algo errado no indivíduo. Por exemplo, se um indivíduo entra em
colapso em face de um estresse avassalador, o problema encontra-se no ambiente
e não no indivíduo. Retrair-se ou tornar-se deprimido pode ser uma resposta
racional a um ambiente irracional ao invés de uma doença. Em suma, ser
diferente, estar errado ou responder a ambientes anormais não deveria ser a
base para rotular um indivíduo como doente.
Os proponentes desta visão apontam que o mito da doença mental pode
levar a conseqüências infelizes. Por exemplo, se rotulamos indivíduos como
doentes, podemos implicitamente encorajar comportamento anormal porque este é o
modo como as pessoas doentes se comportam. Além disso, rotulando indivíduos
como doentes, podemos aliviá-los da responsabilidade pelo seu comportamento
porque as pessoas doentes não são responsáveis por suas condições. Deveria uma
pessoa que comete assassinato ser posta em liberdade porque no momento do crime
estava "insana"? Finalizando, se atribuímos comportamento desviante à
doença, podemos ignorar e não trabalhar sobre fatores sociais como pobreza e
estresse, que podem causar comportamento anormal.
Se o conceito de
doença mental está errado, por que ele é uma explicação tão popular para o
comportamento? Os proponentes do ponto de vista do mito alegam que a noção de
doença mental é um modo conveniente para lidar com pessoas que nos perturbam.
Por exemplo, se rotulamos como doentes pessoas cujo comportamento consideramos
perturbador, podemos vê-las como diferentes de nós, o que nos faz sentir melhor
em relação a nós mesmos. Também, se as rotulamos de doentes podemos justificar
trancá-as de modo que elas não mais nos perturbem. Como um apoio para isto, os
proponentes citam casos de indivíduos que foram trancados por muitos anos,
simplesmente porque estavam aborrecendo outras pessoas. Os indivíduos podem não
ter estado "fora de si", mas, os trancando, os indivíduos
perturbadores ficavam fora na nossa vista e fora da nossa mente. Por fim,
usando a doença mental como uma explicação para o comportamento desviante,
evitamos responsabilidade pelos problemas sociais que estão por trás do
comportamento afastado da norma. Ou seja, dizendo que você está doente e
deveria ser mudado, nós não teremos que assumir a difícil tarefa de mudar a
sociedade .
A doença mental é um mito ou uma realidade? A noção de mito é um
afastamento radical do ponto de vista tradicional, mas de fato tem mérito. Há
algumas formas sérias de comportamento que resultam de fatores ambientais ao
invés de doença. Por exemplo, o transtorno psicótico breve envolve alucinações,
delírios e uma ruptura dos processos de pensamento, porém, em muitos casos, o
transtorno é considerado como uma reação a um estresse avassalador e os
sintomas se dissiparão quando o estresse for reduzido, independentemente de o
indivíduo receber ou não tratamento. Também é o caso de que a definição de doença
mental pode ter sido um pouco estendida. Por exemplo, se uma criança está
apresentando dificuldade em aritmética, poderia ser diagnosticada como sofrendo
de transtorno matemático. De forma similar, se você está indevidamente
preocupado em relação a sua aparência, você poderia ser diagnosticado como
sofrendo de transtorno dismórfico.
Estas são realmente doenças psiquiátricas? Também não há dúvida de
que, às vezes, o sistema é abusado ou falha, de modo que indivíduos são
encarcerados em hospitais de forma injustificada ou por engano. No entanto, há
também indivíduos que experimentam sérios problemas na ausência de estresse
ambiental e cujos sintomas podem ser aliviados apenas com alguma forma de
terapia. Além disso, conforme ilustrarão os estudos de casos neste livro,
alguns indivíduos sofrem terrivelmente dos seus sintomas bizarros que não podem
ser cancelados simplesmente como diferenças de personalidade ou respostas
racionais a uma sociedade irracional. Os sérios e debilitantes sintomas dos
quais estas pessoas sofrem não são conseqüência de sugestão e não estão sob
controle voluntário. Claramente, alguns indivíduos estão doentes.
Hoje em dia, a noção de que a doença mental é um mito é menos
popular do que há 20 anos. Esta mudança pode refletir um aumento, em nosso
entendimento, do comportamento anormal ou pode refletir uma sociedade crescente
mente conservadora. Embora agora concordemos geralmente que as doenças mentais
existem, é importante que não ignoremos a voz da discordância neste tópico. Ao
considerar o comportamento anormal, devemos tomar cuidado constantemente para
que não só descartemos comportamentos desagradáveis como devidos a doença e não
devemos permitir que o sistema seja mal-utilizado acidental ou
intencionalmente. A doença mental não é um mito, mas a possibilidade levanta
importantes questões que devemos manter em mente.